sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O ABECEDÁRIO DE GILLES DELEUZE

O ABECEDÁRIO É RESULTADO DE UMA ENTREVISTA CONCEDIDA POR DELEUZE A CLAIRE PARNET EM 1988. A ENTREVISTA DUROU SETE HORAS, E NO INÍCIO FOI ESTABELECIDA A CLÁUSULA DE QUE, SOMENTE SERIA UTILIZADA, CASO FOSSE, APÓS A MORTE DE DELEUZE.
BRILHANTE COMO SÓ ELE, DELEUZE COMEÇOU A DISCORRER SOBRE PALAVRAS LANÇADAS PELO SEU ENTREVISTADOR, OBEDECENDO A ORDEM DO ABC: "A" DE ANIMAL, "B" DE BEBER, "C" DE CULTURA, "D" DE DESEJO, E ASSIM POR DIANTE.
VOU TRANCREVER UM PEQUENO TRECHO DA ENTREVISTA QUE FALA SOBRE A CULTURA, QUANDO DELEUZE É QUESTIONADO SE CONSIDERA-SE UM HOMEM CULTO:
"GD: Não, quando lhe digo que não me vejo, realmente, como um intelectual, não me vejo como alguém culto por uma razão simples: é que quando vejo alguém culto, fico assustado, não fico tão admirado, admiro certas coisas, outras, não, mas fico assustado. A gente nota alguém culto. É um saber sobretudo assustador. Vemos isso em muitos intelectuais, eles sabem tudo, bem, não sei, sabem tudo, estão a par de tudo, sabem a história da Itália, da Renascença, sabem geografia do Pólo Norte, sabem... podemos fazer uma lista, eles sabem tudo, podem falar de tudo. É abominável. Quando digo que não sou culto, nem intelectual, quero dizer algo bem fácil, é que não tenho saber de reserva. Pelo menos não tenho esse problema. Com minha morte, não se precisará procurar o que tenho para publicar, nada, pois não tenho reserva alguma. Não tenho nada, provisão alguma, nenhum saber de provisão, e tudo o que aprendo, aprendo para certa tarefa, e, feita a tarefa, esqueço. De modo que, se dez anos depois, sou forçado, isso me alegra, se sou forçado a me colocar em algo vizinho ou no mesmo tema, tenho de recomeçar do zero. Exceto em alguns casos raros, pois Spinoza está em meu coração, não o esqueço, é meu coração, não minha cabeça, senão... Por que não admiro essa cultura assustadora? Pessoas que falam...
CP: É erudição ou opinião sobre tudo?
GD: Não é erudição, eles sabem falar, primeiro viajaram, viajaram na História, na Geografia, sabem falar de tudo. Ouvi na TV, é assustador, ouvi nomes, então, como tenho muita admiração, posso dizer, gente como Umberto Eco, é prodigioso, o que quer que lhe digam, pronto, é como se apertassem em um botão, e ele sabe, além disso... Não posso dizer que invejo isso. Fico assustado, mas não invejo. O que é a cultura? Ela consiste em falar muito, não posso me impedir de... sobretudo agora que não dou mais aula, estou aposentado, falar, acho cada vez mais, falar é um pouco sujo. É um pouco sujo, a escrita é limpa. Escrever é limpo e falar é sujo. É sujo porque é fazer charme. Nunca suportei colóquios, estive em alguns quando era jovem, mas nunca suportei colóquios. Não viajo. Por que não? Porque... os intelectuais... eu viajaria se... enfim, não. Aliás, não viajaria, minha saúde me proíbe, mas as viagens dos intelectuais são uma palhaçada. Eles não viajam, se deslocam para falar, partem de um lugar onde falam e vão para outro para falar. E, mesmo no almoço, eles vão falar com os intelectuais do lugar. Não vão parar de falar. Não suporto falar, falar, falar, não suporto. Como me parece que a cultura está muito ligada à fala. Nesse sentido, odeio a cultura, não consigo suportá-la".
MUITO BOM, LEIAM O RESTANTE DO ABC DELEUZIANO.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

MARTA MINUJÍN NA BIENAL MERCOSUL


"EL OBELISCO DE PAN DULCE" - 1979 - Réplica do obelisco portenho de 36 metros de altura recoberto por 10.000 paquetes de pan dulce que logo foram distribuídos para o público.

"EL PARTENON DE LIBROS"




MARTA MINUJÍN E ANDY WAROL


HOJE VISITANDO A BIENAL MERCOSUL, NO MARGS, ME DEPAREI COM ALGO INCRÍVEL, MARAVILHOSO, A OBRA DE MARTA MINUJÍN. ARGENTINA, NASCIDA EM 1941, RESIDE E TRABALHA ATUALMENTE EM BUENOS AIRES.

A OBRA DE MINUJÍN É VASTA, DIVERSIFICADA E INUSITADA, SÃO DESENHOS, PINTURAS, ESCULTURAS E, O MAIS INTERESSANTE, INSTALAÇÕES, CHAMADAS DE PROJETOS DE PARTICIPAÇÃO MASSIVA.

ESTES PROJETOS TIVERAM INÍCIO NO FINAL DOS ANOS 70, ENTRE ELES ESTÁ ALGO REALMENTE MUITO LOUCO, "EL PARTENÓN DE LIBROS", UMA ESTRUTURA TUBULAR DE FERRO DO MESMO TEMANHO QUE O PARTENÓN DE ATENAS, RECOBERTA POR MILHARES DE LIVROS PROIBIDOS DURANTE A DITADURA MILITAR ARGENTINA.

LOCALIZADO NA AV. 09 DE JULIO COM A AV. SANTA FE, O PARTENON FOI ABERTO E COMPARTILHADO COM O PÚBLICO DURANTE A NOITE DE NATAL DE 1983, ANO QUE MARCA O FINAL DO REGIME AUTORITÁRIO.

A EXPOSIÇÃO NO MARGS APRESENTA O PROJETO E A DOCUMENTAÇÃO DESSA OBRA INOMINÁVEL. VALE A PENA CONFERIR.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SOMENTE LEVI STRAUSS AO MORRER COM MAIS DE 100 ANOS, PODERIA DESAFIAR O TEMPO COMO FEZ COM O PENSAMENTO TRADICIONAL E CARTESIANO



“(...) em vez de caminhar em direção à uniformidade a evolução da humanidade acentuará os contrastes criando o novo e restabelecendo o reino da adversidade. Romper hábitos milenares, essa é talvez a lição de sabedoria que um dia
haveremos de aprender das vacas loucas”. (LEVI-STRAUSS)
A primeira vez que ouvi falar em Levi Strauss foi na década de 80, quando cursava História na PUC. Como não podia ser diferente, o contato inicial se deu por meio das sempre irreverentes palavras da nossa querida Ruth Gauer, que na contra-corrente de um marxismo ortodoxo (o qual alíás eu me filiava de forma militante), trouxe para o interior do debate o pensamento antropológico. Questionando dogmas causalistas, determinismos econômicos, e substancialmente o reducionismo das dimensões culturais e ritualísticas à meros reflexos da estrutura sócio econômica, começamos a ler a obra do grande Levi Strauss. Dentre os livros mais genais, especialmente por nos possibilitar a compreensão da própria cultura brasileira, temos "Tristes Trópicos", depois vem "Pensamento Selvagem", "O cru e o cozido", "O Homem nu", entre outros.
Mas uma das coisas mais brilhantes que li de Levi Straus foi um ensaio que eu nunca tinha escutado falar, e acabei esbarrando com ele a um tempo atrás na Sulina, chamado "O Suplício de Papai Noel", publicado em 1952, traz um estudo antropológico deste personagem tão popular, num contexto de mutação ocorrido na Europo pós-guerra.
Bem não precisa dizer mais nada, vai aqui a minha homenagem a este gigante.