sexta-feira, 28 de agosto de 2009

CONTRA A CARETICE ESCOLAR "UM CONTRATO COM DEUS" DE WILL EISNER


Embora não sendo especialista na área da educação, muito menos infantil, tanto por convicção como por intuição sempre achei a escola por demais careta, e pior, refratária a tudo aquilo que não seja considerado tradicionalmente adequado do ponto de vista da pedagogia do controle e disciplina. Ou seja, resistente a tudo que incite questionamentos, criatividades, irreverências, liberalidades... ou mal comportamento.

A discussão acerca dos livros de literatura infanto-juvenil comprados para as escolas públicas pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola, criado pelo MEC, somente serviu para reforçar minha visão quanto o elogio ao conservadorismo escolar.

A crítica dos nossos respeitáveis "mestres" atingiu principalmente os quadrinhos, as novelas gráficas, charges, mangas, cartuns.... Obviamente que isso não se deu por acaso, mas exatamente pelo fato desse tipo de literatura fugir completamente das indicações compreendidas como essenciais para a formação educacional, cultural, moral e ética de nossas adoráveis criancinhas.

A natureza transgressora tanto do traço artístico, como do conteúdo de tais publicações agrediu os arautos da moral e do senso comum, jogando na lata do lixo a oportunidade singular de estabelecer um diálogo bem humorado com esta nova geração.

Conforme nos chama atenção Betania Libano Dantas de Araújo, doutora pela USP em Educação, nossos alunos não precisam mais de humor sem qualidade, ou de mal humor, pois nossas casas são diariamente invadidas por este tipo de programação, marcadas por piadas grotestas, carregadas de preconceitos e humilhações.

Então a escola deveria dar viva o bom humor.

Mas, como tudo tem dois lados, o inusitado, o controverso e contraditório... A discussão suscitou a curiosidade de muitos, entre eles a que vos fala.

Fui tentar conhecer algumas das obras malditas, perseguidas pela inquisição pedagógica.

Achei algo maravilhoso, a obra em quadrinhos de Will Einser - "Um Contrato Com Deus" - publicada em 1978 e, considerada a primeira graphic novel da História.

São quatro contos o primeiro "Um Contrato Com Deus" trata da relação do homem com Deus; o segundo "Cantor de Rua" trata da vida de um homem durante a Grande Depressão; o terceiro "O Zelador" misterioso e temido guardião do prédio do Bronx onde o autor passou a infância; e o quarto "Cookalein" descreve uma estância de veraneio numa fazenda onde os hóspedes preparam suas próprias refeições.

O livro foi condenado, pois além de questionar a existência de Deus, traz cenas de sexo, e sugere fantasias pedófilas.

Imperdoável, a realidade realmente é bastante inadequada a nossos jovens.

Respeitemos a incapacitação, o seqüestro da criativadade, e a mutilação da liberdade de escolha.


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

JULIO RENY E O CINE MARABÁ




Sempre fui fã do Julio Reny.... ele é realmente o máximo.


Sensibilidade crua, cortante, punk...


A música "amor e morte" foi um hino da geração portoalegrense dos 80, ao menos daquela mais maldita que freqüentava o Lola, Ocidente, o Vortex ...


Tinha outro boteco que também reunia vários músicos, o bar do Léo na Irmão José Otão, continuação da Vasco da Gama.


Outra música linda do Júlio Reny é o "cinema Marabá".... Ouvindo hoje na Ipanema fiquei curiosa para conhecer e achei estas imagens para vocês. O Cine Marabá surge em 1947, era o antigo Cinema Palácio da Coronel Genuíno, 206, próximo ao viaduto da Borges.


O Julio está lançando um site http://www.julioreny.com.br/ entrem e confiram as músicas e os shows.


terça-feira, 25 de agosto de 2009

O CADERNO DE SARAMAGO

« Pátio do Padeiro
A sombra do pai (1) »
Almodóvar By José Saramago
Cheguei tarde à “movida”, quando ela já tinha deixado os seus trajes de arlequim urbano, as suas lágrimas falsas de rimel negro, os seus postiços, as suas perucas, os seus risos e a sua tristeza. Não quero dizer que as “movidas” sejam tristes por definição, o que digo é que têm de se esforçar muito para não deixar que lhes saia da boca, no meio da festa e da orgia, a pergunta definidora: “Que faço eu aqui?” Atenção, estou contando uma história que não é minha. Nunca fui homem para “movidas” e se alguma vez acontecesse deixar-me seduzir, estou certíssimo de que não faria melhor figura que D. Quixote no palácio dos duques. O ridículo existe de facto, não é unicamente um ponto de vista. Posto isto, creio não equivocar-me muito imaginando Pedro Almodóvar, referente por excelência da “movida” madrilena, a perguntar à sua pequena alma (as almas são todas pequenas, praticamente invisíveis): “Que faço eu aqui?” A resposta vem dando-a ele nos seus filmes, esses que nos fazem rir ao mesmo tempo que nos põem um nó na garganta, esses que nos insinuam que por trás das imagens há coisas a pedir que as nomeemos. Quando vi “Volver” enviei a Pedro uma mensagem em que lhe dizia: “Tocaste a beleza absoluta”. Talvez (seguramente) por pudor, não me respondeu.
Devo concluir. De uma forma decerto inesperada para quem está mal gastando o seu tempo a ler estas linhas, e que resumo assim: a Pedro Almodóvar espera-o o grande filme sobre a morte que vem faltando ao cinema espanhol. Por mil razões, sobretudo porque essa seria a maneira de recuperar dos escombros o sentido último da “movida”.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A CRISE MUNDIAL E A CRISE DE FRANCIS FUKUYAMA ESCRITO POR CHRISTIANE FREIRE E PUBLICADO NO BOLETIM Nº 201 DO IBCCRIM

A leitura da entrevista de Francis Fuku­ya­ma nas páginas amarelas da revista VEJA, do mês de abril passado, além de provocar-me um grande desconforto, conduziu-me à reflexão crítica de vários aspectos ali abordados.
Para quem não sabe, trata-se de um importante cientista político americano, conhecido como arauto do “Fim da História”, e festejado pelos principais defensores do liberalismo econômico na sua forma mais radical.
Contrapondo-se ao que se vulgarizou denominar “utopia socialista” - compreendida como sonho totalitário, baseado na unificação ideológica e na conformação de um projeto sócio-econômico único - ele, paradoxalmente, preconizou que os sistemas políticos encontraram na democracia liberal sua expressão evolutiva final. E, no exercício do sacerdócio neoliberal através de seu discurso, nas últimas duas décadas profetizou que a democracia liberal consistia no destino final da humanidade, e, portanto, no capítulo derradeiro da história da civilização.
O novo modelo de conformação societária, segundo Fukuyama e os adeptos de sua teoria, exigiam importantes reformulações de cunho político e econômico, sintetizadas em alguns ícones substancias, tais como a irrestrita abertura dos mercados, a máxima desregulamentação do sistema financeiro e a retração sem precedentes do Estado. A fé cega na soberania do mercado pode ser identificada nas palavras do próprio cientista, que ao ser questionado acerca da crise mundial, na malsinada entrevista, admitiu que “por décadas seguimos um modelo que propunha a máxima desregulamentação dos mecanismos financeiros e a crença de que os mercados iriam se ajustar automaticamente a qualquer situação. Até o Alan Greenspan (ex-presidente do banco central americano) reconhece que foi um erro acreditar nisso.”
Ainda, enfrentando a questão acerca das medidas que a democracia liberal precisa tomar para sobreviver à atual crise, pasmem, sem qualquer constrangimento, Fukuyama sustenta: “Precisamos, urgentemente, de maior controle sobre o sistema financeiro, que está completamente desregulamentado. Acredito, também, que o estado mínimo não funcionou. A partir de agora veremos uma presença bem maior do estado na economia. Ou seja: será uma economia mais de estado e menos de mercado”.
O grande expoente do pensamento único neoliberal ao resgatar os demonizados símbolos do Estado intervencionista, esqueceu de analisar os profundos custos sociais e humanos das duas décadas precedentes, acarretados pelo desmonte do Estado de Bem-Estar, com fragilização ou extinção de suas redes de proteção e assistência; pelo fenecimento de milhões de postos de trabalho, com a disseminação do desemprego estrutural e a oficialização do emprego temporário; pela condenação de milhares de pessoas a marginalização e dester­ri­to­ria­li­za­ção; e, por fim, pela aposta no controle social punitivo de importantes parcelas da população vulnerável.
Os custos humanos são mais uma vez ignorados por Fukuyama quando inquirido sobre os danos causados aos Estados Unidos com a atual crise. O primeiro aspecto enfatizado refere-se à redução dos “recursos econômicos suficientes para sustentar uma série de atividades que mantêm ao redor do mundo, como a ajuda a outros governos ou as operações no Oriente Médio”. O segundo aspecto, revelador do alto grau de perversidade contido no discurso, é o que ressalta no plano das ideias “uma série de danos à imagem do país como promotor de um modelo de democracia e de capitalismo.”
Mais estarrecedora foi a declaração do entrevistado acerca de qual dos efeitos globais da crise mais lhe assusta. Para ele, a pior consequência da crise reside no fortalecimento dos nacionalismos econômicos, e no retorno das medidas protecionistas, e não no fato de que, entre 55 e 90 milhões de pessoas, passarão à condição de pobreza extrema neste ano devido à recessão mundial. E mais de 1 bilhão sofrerão de fome crônica no mundo todo; ou de que as consequências sociais e humanas serão devastadoras nos países africanos, cuja desaceleração do crescimento poderá ocasionar a morte de mais de 700.000 crianças antes de atingirem um ano de idade conforme as previsões do “Informe sobre Acompanhamento Global 2009: Uma Emergência de Desenvolvimento”, relatório divulgado em 24.04.2009 pelo Banco Mundial (BIRD) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), às vésperas da Reunião de Primavera das duas instituições(1). Ou, ainda, na taxa de desemprego dos Estados Unidos que fechou, em 2008, com 7,2%, quando o número de desempregados atingiu 2,6 milhões de pessoas, maior índice registrado desde o fim da 2ª Guerra Mundial em 1945.
Outro aspecto, no mínimo surpreendente, é o momento da entrevista em que o cientista político critica os programas sociais de redistribuição de renda atualmente implementados na América Latina. Considera que as políticas de inclusão social devem emergir de um consenso, e não da retração dos direitos das elites em favor dos excluídos, vez que tal orientação contribuiria para a acentuação perigosa da polarização entre esquerda e direita.
Ora, embora sem adentrar no mérito da natureza e eficácia dos programas de redistribuição de renda, parece-me imprescindível lançar o seguinte questionamento: Em que experiência ou momento histórico se vivenciou processos de redução de desigualdades sociais, redistribuição de renda ou políticas de inclusão forjadas pelo consenso entre grupos sociais distintos e antagônicos? Mesmo a mais cautelosa revisita a memória coletiva não traz qualquer registro neste sentido. Ao contrário, a dinâmica das conformações societárias sempre foram marcadas por situações de dissenso e conflitualidade.
A sociabilidade na América Latina - em virtude da herança colonialista e da tradição autoritária - estrutura-se numa profunda segmentação social, econômica e cultural, impeditiva de qualquer tipo de conciliação ou pacto. Importante lembrar, ainda, que todos os direitos e garantias individuais e as coletivas, conquistados pelos setores populares na América Latina, resultaram de amplos movimentos de resistência e reivindicação. Diante disso, não me atrevo a sugerir que Fukuyama apresente qualquer tipo de dúvida frente a tal proposição, tão prosaica e generalizada pelos diferentes pensamentos contemporâneos.
Por fim, diante do comentário do entrevistador de que suas afirmações se mostram incongruentes com os ícones do conservadorismo americano, Fukuyama assegura que: “Rompi com os conservadores no início da Guerra do Iraque. Não concordei, e não concordo, com a maneira como o governo anterior utilizou o poder americano. O erro de estratégia ficou claro com os danos ao prestígio do país. Os republicanos precisam repensar sua política externa e, no campo da economia, devem rever suas posições ideológicas sobre economia e governo mínimo, porque foram justamente elas que nos impeliram para a crise econômica atual.”
A conclusão apresentada pelo entrevistado, embora desalentadora, não deixa de ser coerente com o conjunto da percepção esboçada durante toda a entrevista. Primeiro por que, ao mencionar o rompimento com os conservadores no início da Guerra do Iraque, ressalta as divergências com a utilização do poder americano, e os erros de estratégia que acabaram por macular o prestígio do país. Logo, não faz nenhuma alusão à destruição do Iraque, ao extermínio de civis, aos crimes de guerra, tampouco as baixas sofridas pelos soldados americanos. Segundo por que, ao tratar da economia, cinicamente, afirma que a causa primordial da crise mundial foi exatamente a efetivação dos principais signos da econômica neoliberal e do governo mínimo.
Ora, se todas estas questões não versassem sobre a mais crua realidade envolvendo a vida de milhares de seres humanos, poderíamos imaginar que estamos diante de um diretor de cinema, propondo-se a experimentações estéticas, cujo destino dos personagens pode a todo e qualquer momento ser alterado pelo roteirista, sem qualquer tipo de dano ou prejuízo. Sejamos otimistas, ainda bem que a história não terminou...
NOTAS
1 “A crise econômica global pode conduzir a uma crise humana em África. Se se verificar uma desaceleração do crescimento que tem sido típica no passado, calculamos que mais 700.000 crianças morrerão antes de atingirem um ano de idade”, salienta o Banco Mundial, em nota divulgada em abril desde ano, a propósito da Reunião de Primavera da instituição.
“A pobreza estava a decrescer e muitos indicadores de desenvolvimento humano – em particular a prevalência do VIH/SIDA – estavam a melhorar. Agora, as esperanças suscitadas por uma década de crescimento estão a ser goradas. O que se segue, poderá ser agitação política e social”.
O impacto nos países africanos é verificável na redução dos fluxos de capital privado, que estão em declínio, depois de em 2007 terem pela primeira vez excedido o montante de ajuda externa ao continente.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pablo Neruda (foto na casa "La Chascona", Santiago, Chile)


"Dadme para mi vida todas las vidas,
dadme todo el dolor de todo el mundo,
yo voy a transformarlo en esperanza"
"El hombre invisible", O.C., 1, 1003.
Yo volveré...
(por que me comove tanto? Talvez pela impossibilidade de lidar com a ida, de entender a partida)
"Yo volveré
Alguna vez, hombre o mujer, viajero,
después, cuando no viva,aquí buscadme, buscadmeentre piedra y océano,
a la luz procelariade la espuma.
Aquí buscad, buscadme, porque aquí volveré sin decir nada,
sin voz, sin boca, puro,
aquí volveré a ser el movimiento del agua, de su corazón salvaje,
aquí estaré perdido y encontrado: aquí seré tal vez piedra y silencio."
(POSTADO POR MELISSA (A CHILENITA)

domingo, 9 de agosto de 2009

A MOSTRA ARTE NA FRANÇA 1860-1960: O REALISMO
















A MOSTRA É MARAVILHOSA, ALÉM DA OPORTUNIDADE DE VER OU REVER OBRAS CLÁSSICAS COMO VAN GOGH, GAUGUIN, MONET, MANET, CEZANNE, PICASSO, DI CAVALCANTI, PORTINARI ENTRE OUTROS... O QUE MAIS ME CHAMOU ATENÇÃO FORAM OS NOVOS REALISTAS, NO SEGUNDO PISO DO MARGS.... O REALISMO E A FIGURA NARRATIVA, OU COMO ALGUNS CONCEITUAM O REALISMO EXCESSIVO OU SUPER REALISMO.
AS OBRAS DE GUDMUNDUR ERRÓ, ALAIN JACQUET, GERARD FROMANGER, PETER KLASEN, JACQUES MONORY SÃO INDESCRITÍVEIS E IMPERDIVEIS.
COM CERTEZA UMA DAS EXPRESSÕES ARTISTICAS MAIS CRIATIVAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO QUE JÁ VI.
NÃO PERCAM. VOU POSTAR ALGUMAS IMAGENS DESTES VISIONÁRIOS, SÓ PARA DEIXAR VOCÊS COM VONTADE DE VER...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

TRANSPORTE DE PRESOS: E QUANDO O ESTADO VIOLA O CÓDIGO?


Assisti ao ferrenho embate jurídico e político ocorrido no Brasil, por ocasião da edição de uma norma que proibiria o uso irrestrito de algemas. O princípio invocado era o da dignidade da pessoa humana e o da presunção da inocência. À opinião pública o tema era afeito porque os meios de comunicação, diuturnamente, divulgavam (e divulgam) imagens de pessoas – personalidades ou não – entrando ou saindo de delegacias de polícia com as mãos centradas à frente do corpo, não raras às vezes encobertas a fim de que a imagem não revelasse o que todos imaginavam: o uso de ditas algemas. Esse atuar dos agentes do Estado incomodou alguns. Talvez por conta de quem tenha sido algemado.
Resolvido o imbróglio, finalmente a razão imperou e a norma entrou em vigor. Todavia, poucos no país questionam ou se insurgem contra uma ação tão ou muito mais grave, mais violenta e mais ilegal: a condução de pessoas presas (condenadas ou não, mas também não importa) no porta-malas dos veículos estatais. Algemados, jogados de lado, sem assento, sem cinto de segurança, são conduzidos, espetacularmente diante dos olhos públicos, famosos ou anônimos.
O que mais estarrece, para além do simbólico da feitura da prisão (naquilo que Jacinto Coutinho refere não bastar o uso da força, ser preciso o escárnio para o gozo da massa) e de todos os seus efeitos estigmatizantes, é a violação explícita realizada pelo Estado de seus próprios princípios normativos, insculpidos na Constituição Federal e no próprio Código de Trânsito brasileiro.
No documento de 1997, o Estado se preocupou em estabelecer os objetivos básicos do Sistema Nacional do Trânsito. Ali, no artigo 6º, está dito que as diretrizes da Política Nacional do Trânsito devem ter em vista a segurança, a fluidez, o conforto, a defesa ambiental e a educação das atividades para o trânsito. E, antes mesmo de ser objetivo básico, a segurança é apontada como disposição preliminar. O parágrafo 2º do artigo 1º assim determina: O trânsito, em condições seguras é um direito de todos (...).
Se é assim, o emprego de viaturas para transporte de pessoas custodiadas pelo Estado sem a observância desse fundamento significa o quê? A expressão “todos” foi mal empregada? Ou será que, pelos costumes e pelos sentimentos de vingança outorgamos ao Estado o direito de descumprir as suas normas, ou de relativizá-las dependendo de quem é o seu destinatário? Será que o Estado abandonou as máximas latinas, sinal de erudição do ordenamento jurídico racional, para assumir uma máxima popular simplória (“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço!”)?
A despeito da vigência da Constituição Federal (local em que princípios como dignidade da pessoa humana e princípio da inocência, e os direitos à vida e à integridade física ganharam status de imutabilidade e de garantia de um contra a violência de todos.), as viaturas ao estilo “camburão” seguiram sendo utilizadas pelos órgãos da segurança pública. Possivelmente alicerçado nas situações regulamentadas pelo CONTRAN, o descumprimento do artigo 65 do CTB (É obrigatório o uso de cinto de segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional) adquiriu aparência de legalidade.
Tudo porque o artigo 2º da Resolução nº 14, de 06/02/1998, estabelece que não será exigido cinto de segurança nos veículos para passageiros, de natureza coletiva, ônibus ou microônibus em que se possa viajar em pé, e nos “veículos bélicos” (leia-se, de guerra, do Exército, de uso das forças armadas).
Por outro lado, é risível (não fosse trágico) que a lei federal brasileira (de número 8.653/93) destinada a regulamentar o transporte de presos no Brasil (e que, jocosamente, dá outras providências), tenha apenas quatro dispositivos. O primeiro afirma que “É proibido o transporte de presos em compartimento de proporções reduzidas, com ventilação deficiente ou ausência de luminosidade”. O segundo foi vetado. O terceiro determinou a entrada em vigor na data de sua publicação. O quarto revogou as disposições em contrário.
O riso se torna uma gargalhada estupefata porque a malfadada norma específica ainda está em vigor. Foi publicada após a Constituição Federal e não se adequou àquela carta de Princípios. É como se proporções medianas, com furos na lataria e vidros que deixem passar a luz (e a imagem de quem está dentro, muito importante para o escárnio) fossem suficientes para assegurar a dignidade e a segurança da pessoa transportada.
Ao mesmo tempo, o Código de Trânsito Brasileiro não se preocupou em disciplinar a matéria. Ao contrário. Estabeleceu uma série de limitações à condução dos veículos automotores, previu outra série de sanções (especialmente as de caráter pecuniário destinatárias ao particular) e delegou ao CONTRAN a responsabilidade de dizer o que ali não foi dito. Esse, a seu turno, seguiu estabelecendo uma série de outros requisitos de proteção aos ocupantes dos veículos. Mas nenhum vedou, explicitamente, o transporte de seres humanos nos porta-malas dos veículos oficiais.
A atenção na criação de requisitos de segurança foi destinada à proteção de outros bens. Veja-se, por exemplo, a complexa Resolução de número 264 que define os requisitos de segurança para o transporte de blocos de rochas ornamentais. Sim, para isso, há requisitos explícitos.
De tudo, ficam mais essa desconsideração do Estado brasileiro com a pessoa custodiada e o inequívoco desinteresse do enfrentamento da matéria (há notícias de que o Ministro Tarso Genro tenha requerido à Polícia Federal a substituição dos veículos equipados com as ‘gaiolas’. Segundo divulgado na mídia, o requerimento teria sido feito em 2007. Até agora, as imagens jornalísticas revelam que nada mudou.)
Enquanto isso, críticas são dirigidas a quem questiona os meios operacionais estatais destinados à contenção dos “perigosos” (pesquisadores das ciências criminais, criminólogos e sociólogos são costumeiramente ignorados por alicerçarem as suas convicções, quanto às motivações para as práticas delituosas, em fatores biológicos, psicológicos e/ou sociais). O foco da discussão se perde e o espetáculo punitivo (inclusive antecipado, quando o preso transportado é a pessoa que ainda não foi condenada) é celebrado. Empenham-se na manifestação rasteira de intolerância e, assim, justificam a violação da lei. É como se, em um dualismo simplista e vulgar, pusesse em marcha dois direitos (do amigo e do inimigo).
Todavia, a única intolerância tolerável no Estado de Direito que escolhemos, deve ser consenso entre repressivistas e críticos: quando o autor das ilegalidades é o próprio Estado. Há que imperar a força dos princípios constitucionais. Há que se exigir também do Estado o cumprimento de suas normas. Tudo sob pena de legitimarmos um mesmo algoz.



TEXTO DE RENATA ALMEIDA DA COSTA publicado originalmente no Jornal "Estado de Direito", edição de julho/agosto de 2009.

terça-feira, 4 de agosto de 2009


Un poco de Neruda...


A la mesa con Neruda: editan su viaje culinario por Hungría
Fundador de la sociedad de los poetas gordos, en 1965 el autor de Canto general recorrió la tierra del gulash con el guatemalteco Miguel Angel Asturias. Durante semanas visitaron restoranes, bares y tabernas. Así cocinaron Comiendo en Hungría, libro que es editado por primera vez en Chile.




Pablo Neruda y Rafael Alberti vivían en el segundo piso de una librería en París. Era 1938. En la vitrina de la tienda se veían las voluminosas obras de Víctor Hugo y cada día, al bajar, Neruda y Alberti medían sus barrigas contras las obras completas del escritor francés. "Rafael, desalentado, exclamaba: -Ya estoy pasando al quinto tomo de Los miserables-. Y yo, a mi vez, después de controlarme, le respondía: -No he aumentado. Alcanzo sólo Notre-Dame de París", contaría Neruda. Para ellos, el tiempo de los poetas pálidos y flacos había pasado; el siglo XX era la época de los vates del buen comer y el buen beber: la sociedad de los poetas gordos.
Así lo recuerda Neruda al inicio de Comiendo en Hungría, una guía literaria, turística y gastronómica por la tierra del gulash. Un viaje y una celebración de la comida, la bebida y la cultura húngara, que realizó con otro insigne miembro de la misma cofradía: el guatemalteco Miguel Angel Asturias.
En 1965 Neruda y Asturias, ambos futuros Premios Nobel, se encontraron en Budapest. Golosos ambos, cenaron en el Alabardero, un restorán emplazado en un palacio gótico del siglo XV, y quedaron encantados con el "manjar centelleante" que degustaron. Durante la noche hablaron maravillas de la cocina húngara y así, entre copa y copa, decidieron escribir un libro. Pero a diferencias de esas ideas que nacen y mueren en noches de comida y bebida, Neruda y Asturias se sacrificaron: durante semanas recorrieron tabernas y restoranes, comiendo, bebiendo y dejándose seducir por sabores, olores y especias.
"Por eso, este libraco, librejo, librillo (distracción de poetas, sueño real de una noche de verano), fue premeditado y consumado entre las casas húngaras, entre sus baladas gitanas y los fogones de irresistible magnetismo. Las especias de toda la tierra entran en estas ollas generosas y los húngaros saben que convivir es concomer", escribió Neruda.
Publicado en 1967 en Budapest y en 1972 en España, Ediciones Universidad Católica lanza la primera edición chilena de Comiendo en Hungría. "Si hay libros felices (o libracos, librejos, librillos), éste es uno de ellos -anotó Neruda-. No sólo porque lo escribimos comiendo sino porque queremos honrar con palabras la amistad generosa y sabrosa".
EX POETA FLACO


Neruda era un poeta flaco. Venía de una familia pobre donde la cocina no era más que un trámite. Cuando viajó a Santiago como estudiante, solía almorzar chupe de guatitas en El Jote, con vino litreado. Además, se defendía con marraquetas y café con leche. Pero los viajes y la fama lo transformaron en un sibarita: en Oriente se enamoró de las especias y el whisky, en España amó el jamón serrano, la paella y las angulas al pilpil. Ya iba para poeta gordo.
Asturias y Neruda, rellenitos los dos, ya eran reputados poetas y amigos cuando se encontraron en Budapest. Se había conocido en 1940 en Guatemala. Años después, Asturias le salvó la vida: le prestó su pasaporte para que Neruda, prófugo de González Videla, viajara de Buenos Aires a París en 1949.
Así, el libro es también el testimonio su amistad. Del gulash a la sopa de jabalí, de los fogas fritos al foie-gras y de las berenjenas al repollo relleno, los escritores festejan la cocina con gusto a paprika. Recorren Budapest, cruzan el Danubio, atraviesan "aldeas blancas como nubes" y van a conocer los vinos de la Hungría verde. Un viaje inolvidable. "Cada comida fue una pequeña fiesta", relató Asturias. "Amo en Hungría el entrelazamiento de la vida y la poesía, de la historia y la poesía", anotaría Neruda en Confieso que he vivido, sus memorias de poeta gordo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

NEM TODOS QUE DERRAMAM O LEITE SÃO DESASTRADOS OU DESAJEITADOS, O CHICO POR EXEMPLO NÃO É....

O LIVRO LEITE DERRAMADO DO CHICO É UMA OBRA PRIMA, ME LEMBROU MUITO O FILME INVASÕES BÁRBARAS, OBVIAMENTE QUE COM AS CORES, O BALANÇO E A DIVERSIDADE DA SOCIEDADE CARIOCA.
A NARRATIVA É UM MONOLOGO INSANDECIDO DE UM ANCIÃO AGONIZANTE, QUE REMONTA A TRAJETÓRIA DE UMA FAMÍLIA DA ARISTOCRACIA CARIOCA EM PLENA DECADÊNCIA.
TRAZ IMPORTANTES REFERÊNCIAS DE PERÍODOS DA HISTÓRIA BRASILEIRA, MAS ISSO É APENAS O PANO DE FUNDO, O MAIS INTERESSANTE É A FORMA COMO O PERSONAGEM ESTABELECE UM DIALÓGO COM AS VÁRIAS PESSOAS QUE PASSARAM POR SUA VIDA.
E MAIS, NÃO EXISTE UM TEMPO LINEAR, AS DIVAGAÇÕES DO PERSONAGEM PERCORREM UM TEMPO E ESPAÇO DESCONTÍNUO, PORÉM ARTICULADO.
O TEXTO É RÁPIDO, O QUE O TORNA DIFERENTE DE TODOS OS ROMANCES QUE TRATAM DE SAGAS FAMILIARES, ESTES NA MAIOR PARTE DAS VEZES SÃO MARCADOS POR UM RITMO LENTO E DESCRITIVO, QUE NÃO RARAS VEZES DESANIMAM E DESENCORAJAM O LEITOR.
MUITO BOM MESMO, VALE A PENA CONFERIR.....

NESTE FINAL DE SEMANA NA PETERLONGO EM GARIBALDI DESCOBRI QUE EXISTE LUZ NO FIM DO TÚNEL, DEVE TER SIDO EFEITO DO ESPUMANTE......