terça-feira, 26 de outubro de 2010

COW PARADE - UM SUCESSO DE PÚBLICO


IMPRESSIONANTE O SUCESSO DAS VAQUINHAS. EM TODOS OS LUGARES DA CIDADE ENCONTRAMOS PESSOAS, AS MAIS DIFERENTES. CRIANÇAS, VELHOS, JOVENS E, MELHOR, MUITAS DELAS QUE PROVAVELMENTE JAMAIS VISITARAM UM MUSEU, CONSTRANGIDAS COM A SUNTUOSIDADE DESTES LOCAIS, ESTÃO AGORA CURTINDO AS VAQUINHAS.
A COW PARADE ANDOU PELO MUNDO E, PENSO QUE O SUCESSO TEM MUITO A VER COM O DESEJO DE UM BREVE RETORNO A ALGUM "TEMPO DA DELICADEZA".   







segunda-feira, 25 de outubro de 2010

EM QUE PESE EU NÃO SEJA APOIADORA DA MARINA, DISPONIBILIZO O MANIFESTO ENVIADO PELO MARCOS ROLIM DE ALGUNS APOIADORES QUE AGORA APOIAM DILMA


MARINEIROS COM DILMA

Estivemos com Marina Silva no primeiro turno, porque buscamos uma alternativa política para o Brasil capaz de afirmar uma conduta pública marcada pela ética na política, em favor de uma política econômica que supere definitivamente a miséria e a concentração de renda e que redirecione o próprio modelo social com base na sustentabilidade. Nos orgulhamos de uma campanha que ofereceu uma contribuição efetiva ao País e que, mesmo com um tempo mínimo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, conseguiu enfrentar as máquinas eleitorais montadas com o apoio do Estado, dos partidos tradicionais e do grande capital.

A votação recebida por Marina Silva expressa, basicamente, um claro sinal de que parcelas expressivas da população não toleram mais o jogo de cena, as alianças sem programa, os acordos que visam apenas a repartição do poder, a corrupção endêmica que abala as instituições, o oportunismo eleitoral e a demagogia que amesquinham a própria política. Os quase 20 milhões de votos que alcançamos sinalizam, ainda, que o Brasil precisa de uma agenda socioambiental séria e que este tema, antes circunscrito a pequenos grupos de ativistas ambientais e à intelectualidade, já possui apelo popular entre nós.

Por conta de tudo aquilo que a candidatura de Marina Silva representou, vivemos a generosa experiência da militância de centenas de milhares de apoiadores em uma campanha que nos ofereceu de volta o espaço da paixão pelas ideias, ao invés da promessa de cargos ou de qualquer expectativa de benefício pessoal. Talvez por conta disso, enfrentamos o sectarismo de muitos que se julgam o “sal da terra” e mesmo Marina – que jamais agrediu ou desrespeitou seus adversários – foi tratada primeiro com desprezo, depois com a costumeira intolerância que acompanha a trajetória da antiga esquerda como uma sombra.

No próximo dia 31, entretanto, esta antiga esquerda se defronta nas urnas com a direita de sempre. Melhor seria para o Brasil que ambas as posições tivessem avançado em seus pressupostos e firmado compromissos mais nítidos em torno de programas de governo. Como se sabe, este não foi o resultado do processo eleitoral. Pelo contrário, somos testemunhas de uma radicalização da disputa, marcada por acusações, boatos e calúnias. A candidatura de José Serra, neste particular, tem se mostrado insuperável e é repugnante que tenha transformado o preconceito em seu principal aliado.

Ao mesmo tempo, é preciso afirmar um caminho que aponte para um futuro de mais inclusão social e de maior sensibilidade com a realidade dos milhões de brasileiros que seguem à margem da própria cidadania. Entendemos que um eventual governo da coligação PSDB-DEM afastaria o Brasil destes grandes desafios, privilegiando os compromissos do “Estado Mínimo” e o discurso repressivo do tipo “Lei e Ordem”. Por isso, a opção representada por Dilma nos parece a mais adequada para impedir um retrocesso histórico cuja conta será paga pelos mais pobres. No mais, a resposta oferecida por Dilma ao documento enviado por Marina às duas candidaturas que disputam o segundo turno foi a que mais se aproximou das nossas propostas, o que nutre expectativas de que Dilma poderá incorporar em seu governo vários dos compromissos da agenda socioambiental que defendemos.

Com base nesta avaliação, conclamamos todos os que apoiaram Marina a uma participação ativa nesta reta final da campanha em favor da candidata Dilma Rousseff.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

NUNCA PENSEI QUE TERIA DE RECORRER AO DELFIM NETO PARA DEBATER OS PROJETOS QUE ESTÃO EM JOGO NA DISPUTA ELEITORAL, TENTANDO ROMPER COM A BAIXARIA, OU MELHOR, COM A CRUZADA MORALISTA

SIMILITUDES


Qualquer semelhança entre a agressão da mídia aos programas de Lula e as reações ao New Deal, nos anos 30, não é só coincidência

Em abril de 2008, escrevi um comentário comparando o PAC e o Fome Zero do governo Lula aos Pogramas de obras públicas e de combate ao desemprego abrigados sob o guarda-chuva do New Deal de F.D. Roosevelt, o presidente que conseguiu tirar a economia americana da Grande Depressão produzida a partir da quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929. Três quartos de século separam essas experiências: na primeira metade da década 1930-1940, os Estados Unidos e o mundo mergulharam numa crise sem precedentes.

Quando Roosevelt tomou posse, em 1933, para seu primeiro mandato, o PIB americano tinha sido reduzido a praticamente a metade (56,4 bilhões de dólares) do que era em 1929 (103 bilhões de dólares).

Apesar da tragédia do desemprego, que chegava a 30% da força de trabalho, os EUA eram uma nação próspera. Havia muita riqueza e uma boa parte da sociedade afluente aceitava o desemprego como contingência natural numa economia de mercado. A melhor coisa que os governos deviam fazer era ficar fora disso.

Roosevelt surpreendeu, já no discurso de posse, anunciando o fim da era da indiferença: “Temos 15 milhões de sujeitos passando fome e nós vamos dar de comer a eles. O governo entende que é sua obrigação providenciar trabalho para que eles mesmos voltem a sustentar suas famílias”.

Para escândalo de muitos, seu governo colocou em marcha dois enormes programas, nunca antes tentados naquele país, de amparo ao trabalho e combate à miséria, com investimentos públicos em obras, cuja principal prioridade era a absorção de mão de obra (uma espécie de PAC). O empreendimento-símbolo foi a criação da TVA (Tennessee Valley Authority), que construiu barragens para a produção de energia e gerenciou os projetos de irrigação para a produção de alimentos.

Esses programas sofreram pesado bombardeio da oposição conservadora, que, a título de defender a livre iniciativa, esconjurava a ingerência estatal no setor privado, porque interferia na oferta e procura de mão de obra, desvirtuando o funcionamento do mercado de trabalho… Um dado interessante é que os ataques da mídia republicana evitavam agredir o presidente (e seus altos níveis de popularidade), concentrando toda a fúria na figura de Harry Hopkins, principal mentor dos programas de amparo ao trabalhador e gerente das obras públicas, qualificado de “perigoso socialista”. Qualquer semelhança com agressões midiáticas recentes aos programas Fome Zero, Luz para Todos e ao PAC não é simples coincidência…

Hoje, ninguém duvida que o New Deal foi decisivo para a reconstrução da confiança dos americanos nos fundamentos do regime de economia de mercado. Suas ações ajudaram a salvar o capitalismo, na medida em que os milhões de trabalhadores que recuperaram os empregos voltaram “a acreditar na vontade e na capacidade do governo de intervir na economia para proporcionar uma igualdade mais substancial de oportunidades” (FDR numa de suas falas no rádio, Conversa ao Pé do Fogo.)

O fato é que o PIB americano cresceu durante o primeiro e segundo mandatos e, em 1940, havia recuperado o nível que perdera desde o início da grande crise, medindo 101,4 bilhões de dólares. Roosevelt completou um terceiro período presidencial e ainda foi eleito (no fim da Segunda Guerra Mundial), para um quarto mandato, mas faleceu antes de exercê-lo.

Quando Lula assumiu o primeiro mandato, em 2002, a economia brasileira não estava na situação desesperadora da americana de 1933, mas contabilizava algo como 12% de desemprego da população economicamente ativa e vinha de um período de quase 20 anos de medíocre crescimento, com a renda per capita praticamente estagnada. Seu governo pôs em prática os programas de combate à fome que prometera no prólogo de sua Carta aos Brasileiros e posteriormente o PAC, que soma o investimento público e obras privadas, com foco na recuperação da desgastada infraestrutura de transportes, da matriz energética e na indústria da habitação. Setores de grande demanda de mão de obra e de promoção do desenvolvimento.

Oito anos depois (e 15 milhões de empregos a mais), os resultados são visíveis: queda acentuada das taxas do desemprego (para menos de 7% da população economicamente ativa), crescimento da renda e dos níveis de consumo da população, recuperação da autoestima do trabalhador e uma sociedade que adquiriu condições de oferecer uma substancial melhora na distribuição de oportunidades. Isso, tendo atravessado a segunda pior crise da economia mundial dos últimos 80 anos, com o PIB crescendo em 2010 acima de 7%.

FONTE: DELFIM NETO NA CARTA CAPITAL



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

HISTÓRIA REGIONAL DA INFÂMIA - LIVRO DE JUREMIR PARA OXIGENAR UM POUCO A BAIXARIA QUE ASSOLA ESSE PERÍODO ELEITORAL

História regional da infâmia (o livro)

As sociedades precisam de mitos. Mas também precisam de História. Essa é a complexidade nossa de cada dia. Há coisas que são antagônicas e complementares. O cotidiano precisa de publicitários e de sociólogos, de escritores e de historiadores. Uns produzem mitos que funcionam como um “cimento social”. Outros, igualmente úteis, fazem a “desconstrução” dos mitos quando eles se tornam excessivos ou monolíticos. Para cada mágico, há um “Mister M”. Acabo de publicar pela L&PM um livro chamado “História regional da infâmia – o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou como se produzem os imaginários”. É uma obra polêmica. A sua base, no entanto, é puramente documental (mais de 15 mil documentos pesquisados). Posso garantir que há elementos novos, sistematização de aspectos dispersos e esclarecimento do que era boato ou permanecia nebuloso.

Foram seis anos de trabalho, sendo três anos de pesquisa sistemática, auxiliado por vários pesquisadores. Fui aos Estados Unidos só para conversar com Spencer Leitman, um historiador que, sendo estrangeiro, conseguiu dar um mergulho sem muitos desvios na saga farroupilha. Faço algumas comparações provocativas. O essencial, no entanto, está em mostrar como a história foi deslizando para o mito e em como o discurso sobre a Revolução Farroupilha pode contradizer o que os documentos mostram do movimento mais emblemático da história do Rio Grande do Sul. Cada país tem o seu jeito de lidar com temas controvertidos. Nos Estados Unidos e na França, a mídia debatendo os assuntos tabus sempre que há novo pretexto. A Revolução Francesa de 1789 é reinterpretada ou revisitada praticamente de dez em dez anos. François Furet e Max Gallo estão entre seus últimos revisores.

Somos movidos pela libido da verdade e da discussão. A verdade é um horizonte fugidio. Ninguém é dono dela. Cabem muitas perguntas: quem foi indenizado pelo império ao final da revolução? Quem foi acusado de corrupção? Por que houve ruptura interna? Como pode ser realmente abolicionista uma revolução cujo “cérebro”, Domingos José de Almeida, vendeu negros no Uruguai para financiar parte do movimento (comprando fardamento, cavalos e mantimentos)? Esse é certamente um dos pontos mais candentes do meu livro. Focalizo um documento (652) da Coleção Varela, que chamo de “documento ignominioso” ou “documento infame”. Almeida explica como procedeu e reclama o devido ressarcimento. Cobra uma parte da conta:

“Prevendo os resultados da retirada de 4 de janeiro de 1837 se nossos companheiros não fossem de pronto socorridos de cavalgadura, roupa, fumo e erva, nesse mesmo dia despachei 35 escravos, que de minha propriedade tinha já no departamento de Cerro Largo, com Vicente José Pinto para serem vendidos em Montevidéu e seu produto aplicar a esse importante fim”. Diz mais: “Tais escravos foram com efeito vendidos” e as quantias “fielmente aplicadas na manutenção da guerra”. Vale lembrar que o lema farroupilha era “liberdade, igualdade e humanidade”.

TEXTO: JUREMIR MACHADO