sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

BASTARDOS INGLÓRIOS E HANNAH ARENDT



Bárbaro, em sentido amplo, pq é ao mesmo tempo maravilhoso, único, exagerado, chocante, irônico, e não raras vezes cômico.
Tarantino supera a classificação reducionista de uma “estética da violência”, vai muito além, porquê ao mesmo tempo em que revira nossos “delicados estômagos”, nos faz rir do que existe de mais ridículo no trágico.
Além disso, esteticamente o filme é perfeito, sem falar na trilha sonora .....
Mas o mais instigante de tudo isso é o tema central do filme, ou seja, a singular idéia de abordar a ação do grupo “bastardos inglórios”, que pretende revidar a violência praticada pelos nazistas e matar Hitler. Utilizando alta dosagem de violência e humor negro, os integrantes do grupo liderado por Brad Pitt, submetem soldados e oficiais alemães a algumas atrocidades...
Mas o impressionante é que tais atrocidades não nos produzem aquela sensação horrorosa de revolta, náusea, dor e aflição. E não digam que isso está relacionado com a suavização causada pelo exagero e humor negro. Obviamente que tais dimensões cumprem seu papel, mas arrisco outra hipótese!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Penso convictamente que o nosso inconsciente coletivo carrega o trauma irreconciliável do extermínio, o qual acaba por dar vazão as nossas mais contidas fantasias e desejos de vingança.
O Holocausto, ferida incurável, de tempos em tempos nos transforma todos em judeus. Pensando nisso me vem a frase de Hannah Arendt: “Os homens não podem perdoar aquilo que não podem punir, nem punir o que é imperdoável” (A Condição Humana, p. 253).
É um paradoxo muito louco, mas também bastante interessante para pensarmos a violência e, também a punição.
GRANDE TARANTINO.

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