sexta-feira, 15 de outubro de 2010

HISTÓRIA REGIONAL DA INFÂMIA - LIVRO DE JUREMIR PARA OXIGENAR UM POUCO A BAIXARIA QUE ASSOLA ESSE PERÍODO ELEITORAL

História regional da infâmia (o livro)

As sociedades precisam de mitos. Mas também precisam de História. Essa é a complexidade nossa de cada dia. Há coisas que são antagônicas e complementares. O cotidiano precisa de publicitários e de sociólogos, de escritores e de historiadores. Uns produzem mitos que funcionam como um “cimento social”. Outros, igualmente úteis, fazem a “desconstrução” dos mitos quando eles se tornam excessivos ou monolíticos. Para cada mágico, há um “Mister M”. Acabo de publicar pela L&PM um livro chamado “História regional da infâmia – o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou como se produzem os imaginários”. É uma obra polêmica. A sua base, no entanto, é puramente documental (mais de 15 mil documentos pesquisados). Posso garantir que há elementos novos, sistematização de aspectos dispersos e esclarecimento do que era boato ou permanecia nebuloso.

Foram seis anos de trabalho, sendo três anos de pesquisa sistemática, auxiliado por vários pesquisadores. Fui aos Estados Unidos só para conversar com Spencer Leitman, um historiador que, sendo estrangeiro, conseguiu dar um mergulho sem muitos desvios na saga farroupilha. Faço algumas comparações provocativas. O essencial, no entanto, está em mostrar como a história foi deslizando para o mito e em como o discurso sobre a Revolução Farroupilha pode contradizer o que os documentos mostram do movimento mais emblemático da história do Rio Grande do Sul. Cada país tem o seu jeito de lidar com temas controvertidos. Nos Estados Unidos e na França, a mídia debatendo os assuntos tabus sempre que há novo pretexto. A Revolução Francesa de 1789 é reinterpretada ou revisitada praticamente de dez em dez anos. François Furet e Max Gallo estão entre seus últimos revisores.

Somos movidos pela libido da verdade e da discussão. A verdade é um horizonte fugidio. Ninguém é dono dela. Cabem muitas perguntas: quem foi indenizado pelo império ao final da revolução? Quem foi acusado de corrupção? Por que houve ruptura interna? Como pode ser realmente abolicionista uma revolução cujo “cérebro”, Domingos José de Almeida, vendeu negros no Uruguai para financiar parte do movimento (comprando fardamento, cavalos e mantimentos)? Esse é certamente um dos pontos mais candentes do meu livro. Focalizo um documento (652) da Coleção Varela, que chamo de “documento ignominioso” ou “documento infame”. Almeida explica como procedeu e reclama o devido ressarcimento. Cobra uma parte da conta:

“Prevendo os resultados da retirada de 4 de janeiro de 1837 se nossos companheiros não fossem de pronto socorridos de cavalgadura, roupa, fumo e erva, nesse mesmo dia despachei 35 escravos, que de minha propriedade tinha já no departamento de Cerro Largo, com Vicente José Pinto para serem vendidos em Montevidéu e seu produto aplicar a esse importante fim”. Diz mais: “Tais escravos foram com efeito vendidos” e as quantias “fielmente aplicadas na manutenção da guerra”. Vale lembrar que o lema farroupilha era “liberdade, igualdade e humanidade”.

TEXTO: JUREMIR MACHADO

Um comentário:

  1. Me enteressei pelo assunto, sempre achei que esta Revolução tinha alguma falcatrua bem escondida, pois converso com muitos gaúchos qque não sabem esplicar a tal revolução, inclusive no acampamento farroupilha, que na realidade nem sabe o que estão fazendo ali, a não ser tomando uns tragos. Parabéns pela coragem de publicar tal obra, creio que irás comprar muitas peleias, mas não te mixas.

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