segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

GRANDE JUREMIR


Como todo mundo, apesar das minhas ressalvas ao mercantilismo do Bom Velhinho, eu também faço os meus pedidos de Natal. Só que, desta vez, mandarei a minha cartinha para uma mulher. Farei meus pedidos a Dilma Rousseff. Luiz Inácio já a chamou de "mãe do PAC". Não é de duvidar que fique conhecida como "mãe dos pobres". Imagino a direita esbravejando contra o que talvez venha a rotular de "neopopulismo feminino". Estou delirando. Mas os meus pedidos são verdadeiros. Não pedirei pouco. Pensando bem, também não é muito. Pedirei coerência. Não é para rir. Sim, eu acredito em Papai Noel, em coerência de político e na vida extraterrestre. Uma vez por ano.

O que espero da Dilma? Primeiro, que abra os arquivos da ditadura militar imposta ao Brasil em 1964. Não quero comissão da verdade, não desejo a revogação da lei da anistia, não defendo revanche ou vingança, não quero ver sangue jorrando nem cicatrizes se abrindo. Quero pesquisar. A Argentina julgou seus ditadores. Ainda nesta semana, o general golpista Jorge Videla sentou-se no banco dos réus e assumiu seus crimes sem arrependimento. Pegou prisão perpétua pelos seus feitos militares. Esse assunto repercutiu mais na Europa do que no Brasil. Os europeus esquecem com mais dificuldade. Se Dilma sentar em cima dos arquivos da ditadura, como Luiz Inácio fez, eu me sentirei muito decepcionado e julgarei que a esquerda tem mais a esconder do que a direita.

Meu segundo pedido à presidente é que não defenda ditaduras, nem de esquerda nem de direita, e coloque os direitos humanos acima dos interesses econômicos. Cuba é uma ditadura de esquerda. O Irã é uma ditadura de direita. Não é possível ficar afagando quem apedreja mulheres por "crime" de adultério ou proíbe cineasta de filmar para não receber críticas. É inaceitável andar de braços dados com quem coloca homossexual na cadeia pelo "crime hediondo" de preferir pessoas do mesmo sexo. É verdade que o mundo inteiro se rende aos interesses econômicos. Os Estados Unidos brigam com o Irã, mas andam de mãozinha com a Arábia Saudita. O Brasil pode ser diferente. Peço à presidente que favoreça a desconcentração da mídia, mas não tenha a tentação de controlar conteúdos, pois isso só tem um nome: censura.

Enfim, são pedidos humildes, sinceros, sem qualquer interesse escuso. Espero que a presidente os acolha com generosidade e decida fazer feliz este cidadão comum apaixonado pela verdade, por história, por justiça, pelo Brasil. Sei que a presidente não pode e não deve entrar metendo o pé na porta, ainda mais de um palácio. Não peço que abra os arquivos da ditadura na manhã seguinte à sua posse. Pode ser dois dias depois. Brincadeirinha! Pode ser mesmo até o final de 2011. Quem esperou tanto tempo, pode aguardar mais um ano. Faço meus pedidos à presidente Dilma por não ter a quem recorrer. Como cidadão comum, sinto-me, muitas vezes, abandonado, esquecido, vilipendiado, atirado num canto feito um sapato velho. Deixarei minha cartinha no Correio (do Povo). Sei que a presidente sempre passa por lá. Se me atender, serei o guri mais feliz do mundo. Feliz Natal, presidente Dilma.

JUREMIR MACHADO DA SILVA
juremir@correiodopovo.com.br














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