quarta-feira, 15 de julho de 2009

NO DIA DO MEU NIVER ME SENTI UM POUCO COMO FERNANDO PESSOA

Aniversário
Fernando Pessoa( Álvaro de campos )
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!... (Nem o acho... ) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes... O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), O que eu sou hoje é terem vendido a casa, É terem morrido todos, É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio... No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ... Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim... Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui... A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .
Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

2 comentários:

  1. O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

    Sei bemo que é isso. Talvez de uma forma completamente diferente de ti; talvez ñao.
    A verdade é que a empatia me inunda e aperta o peito.
    é suficiente dizer o quanto te adoro, e o quanto rezo por ti? Ñao é. Mesmo assim eu digo. talvez a única forma de estar presente, agora, e te dar um abraco enorme e apertado e festejar o dia dos teus anos...
    Aiai...

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  2. Titi,2 anos atrás , depois de anos sem "brincar" de escrever poesias escrevi isto, justo sobre a idade e o passar dos anos, coisa que estamos sujeitos, chova ou faça sol. A visão e a abertura da lente agente escolhe.


    IDADE



    Quando nada passa
    Passa o trem da juventude
    Vagões cheios, trilhos até a eternidade
    Passa o fulgor de um barco a vela deslizando sob as nuvens de um verão
    Soprado pela memória envolvendo as brumas de um inverno

    Quando passa, passa o vento num assovio de perpétuas madrugadas
    Lábios afoitos, corpos em desordem
    Passa o desejo, fica o desejo
    Desenhado em dias quentes nos confins do Sul
    Fica o olhar, fica o tato, a memória passa

    E se vai numa curva um vagão atravessando as montanhas de uma vida inteira
    E aqui ao redor entre redemoinhos nada passa
    Só passa um trem
    Passa o trem da juventude
    Vagando sem pretensão no vácuo
    Quando nada passa, a vida é eterna ao passar
    Fica um vagão de vagas memórias
    E nada fica
    Tudo passou.



    SMA, 27.02.07

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