sexta-feira, 17 de julho de 2009

O ANSEIO "CIVILIZATÓRIO" DA VIDA REAL

Nada mais complexo do que a realidade.... Na grande maioria das vezes ela nos incomoda, nos desgosta, nos violenta, nos decepciona. Nada é exatamente como desejamos ou esperamos. Nossa vontade de controlar, moldar, aperfeiçoar, purificar, sacralizar e embelezar a vida real não tem limites.
Como praga rogada desde os primórdios, reinventada e resignificada de tempos em tempos, seguimos professando a nossa fé na "civilização" ou "civilidade". Volta e meia reafirmamos nosso velho "contrato social", a partir do dogma de um "mínimo ético comum". Quanto mais nos sentimos incapazes, vulneráveis, exaustos e descrentes, mais reafirmamos nossas normas totalizantes, abstratas e a-históricas. Quanto mais nos sentimos sozinhos e desamparados, mais saudamos e edificamos nossas desgastadas instituições públicas.
Padecemos de uma patologia... a dificuldade, o medo, o pânico do estranho, incontrolável, dissonante, violento e efervescente.
Tudo segue na mais perfeita ordem até o momento em que os fatos nos sacodem do sono tranqüilo, fazendo emergir o medo ancestral da desordem, e da escuridão resultante da ação e força do imaginário social. De repente não mais que de repente assistimos surgir vozes de vários recantos, até então silenciosos, clamando pela volta da ordem e da normalidade.
Alguns, os mais honestos ou quem sabe corajosos, demonstram sua incompreensão e não raras vezes seu temor diante do que estão vendo. Outros, por sua vez, mais articulados, resgatam aqueles preceitos idealizados e mitificados, que fizeram da modernidade o único período histórico, conforme nos afirma Bauman, que (de forma petulante, isso é por minha conta) se auto-denominou "civilização". Mas ambos clamam, rezam e reafirmam suas crenças nas técnicas de controlar, limitar, respeitar, simplificar, pacificar tudo aquilo que existe de vida e pulsão nas manifestações humanas.
Buscando um conceito de Dionísio "é teatro, é tragédia, é abalo na normalidade, nos democratas juramentados, nos tiranos de ocasião, nos bons moços defensores de direitos, deveres e castgos."

3 comentários:

  1. Boa TITI, tem muita sutileza naquilo que escreve.
    Bom saber que nos "encontramos" inclusive nestas angustias que perpassam pela vida e pelas idéias.
    Mas apesar de tudo, ainda podemos pensar. Alias, temos um compromisso ético de pelo menos pensar em modos de deslegitimação desta violência totalitária.
    Parabéns pelo blog,´´e um grande passo...
    Quinho

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Quinho na verdade este texto é resultante de uma discussão que houve aqui no Tribunal acerca da manifestação dos professores em frente a casa da Governadora Ieda.
    Onde alguns apesar de se mostrarem favoráveis ao movimento dos professores, falavam do excesso por eles cometido ao desrespeitarem a residência da governadora.
    Argumentou tipo agrediram a "dignidade da pessoa humana da governadora". Obviamente que não concordei com o argumento e resolvi escrever para debates, ou melhor, refletir.... he, he, he, Vamos lá

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